O silêncio da dor

Estilhaçaram-na as palavras agrestes, os olhares de fundo rasgado quase a haviam esventrado, o silvo estridente de todos os rancores roubaram-lhe, vezes sem conta, o silêncio de cada noite que era o seu maior desejo.
Ela que se perdia dela em cada momento que fugia de si para não se reconhecer.
Ela, que muitas vezes, subira as escadas daquela sua Casa com a Alma em choro, mas nunca vertera uma só lágrima.
Não fora a soberba, nem sequer a vergonha e ali nunca por medo.
Fora apenas para se manter inteira: não permitia que ele fosse mais do que o homem que um dia a aleijou porque se enganou a amar.
E, como poucos, sabe ela como uma dor pode matar mesmo quando se sobrevive, mesmo quando se torna a viver.
A mesma dor que ela perscruta no olhar de quantos, já tantos, que lhe contam da guerra que, dia-a-dia, os mutila.
Choram juntos; ela no silêncio que nunca abandonou, eles com o clamor de quem aguarda o olhar de alguém que não os abandone.