Era sempre diverso que o sentira em cada um dos momentos em que tal miséria se descarnara frente aos seus olhos.
Da raiva à dor. Da impotência à impossibilidade de acreditar.
Mas sempre que subira as escadas daquela sua Casa, a que amava de uma forma tão soberba, aprendera que não podia sentir. Para além do limite de quem começava por ser, apenas mais uma pessoa.
Os seus passos, sabia, apenas podiam rumar ao Caminho de sempre. Mas era por ser esse o Caminho que não podia deixar de sentir tudo o que lhe brotava, até as mil lágrimas de um silêncio dorido.
Foi o Tempo que lhe ofereceu a Paz. Aquele em que trouxeram a Paz. 
Quem sabe porque sempre acredita que o Bem é sempre o Fim que se cumpre?!



Aprendera em cada dia de todos aqueles anos que quem sobe as escadas daquela Casa tem que ter uma Alma diferente.
Sobretudo tem que viver cada emoção no mais recôndito.
Não por estar longe, sim porque viver demasiado perto. E a falta de lonjura pode ali ser mácula.
Mas o pranto da chuva trouxe-lhe o holocausto das lágrimas. A certeza da humanidade. Aquela que nem todas as escadas nunca lhe roubaram.

Era mais um dia que voltava àquela sua Casa.
Mas após tantos anos era visita do recomeço.
Crescera naquela Casa como em nenhuma das outras, mil, onde vivera; foi ali que aprendeu o travo da desilusão e de todas as desilusões. As que deram o traço das lágrimas secas, das palavras ditas em voz tantas vezes sumida, as que fizeram com que fugisse de si.
Hoje as escadas continuavam irregulares, não tinha mudado o tingido do chão nem os azulejos das paredes mas tudo era diferente, era diverso o coração daquela Alma.
Não era já sua a melodia de uma voz apaziguada, nem o contentamento lhe nascia de um sorriso afável. A ousadia tingia-lhe, agora, o coração.
Sabia que não mais voltaria só àquela Casa.