A Vida e o Tempo


Nunca fora ácido o seu olhar; mas a amargura tinha-lhe tingido a voz, a revolta marcado o compasso de todas as horas que ali vivera. E tantas tinham sido.
Subira as escadas daquela Casa, não com dor, mas com desafio; aquele que com outros, seus também, ensaiara, para se mostrar ser homem.
Sentira, no entanto, o temor, deixou-se, mesmo, descair na vontade de lhe mostrar que tinha, também ele, um coração que batia. Resistiu, contudo.
Esquecera-se que todos os que sobem aquelas escadas têm Alma, estava demasiado assustado.
Mas a Vida viveu-o e ele deixou que todas as dores lhe doessem, que o Tempo chegasse enfim.
E hoje já não lhe esconde o olhar e a sua voz já lhe sai límpida.
Está dorido mas apaziguado, sonha e sabe que todos têm Alma.